É menina! Basta o médico que realizou a ultra-sonografia dar o resultado para a mãe já começar a escolher o destino que acha perfeito para a filha, e não adianta negar a maioria pensa: Oh minha bebezinha fará ballet!
Caminho traçado antes mesmo que aquele singelo ser saiba se equilibrar sobre dois pés, firmar as duas pernas, e sair andando, quem dirá fazer uma pirouette. Filmes, peças de teatro, cadernos, desenhos, roupas, bonecas, tudo possível desse mundo onde o corpo e alma acompanham a música em séries de oito, de repente se cria uma pequena amante da dança.
Eis que chega o dia da menina realizar seu sonho que foi alimentado dia após dia: ser bailarina. Coque com redinha, bastante gel para uma boa fixação – nem um fio a mais, nem um fio a menos fora do lugar – presilha de borboletinha, collant rosa bebê, saia combinando, e é claro…as sapatilhas, para a garotinha bailarina que se preze não mostra os pés ao vivo e a cores, mas sim o enfeita com o calçado de seda.
Chega à aula e se encanta. Para as mães corujas nenhuma outra aluna da sala, e talvez até do mundo, tem o talento e perseverança de sua filhinha, escuta-se frases como: Oh, ela não é linda? Olha que amor! Muito bem, querida! Sorri, filha! Já pensa que a pequena é um prodígio em meia hora de aula e que vai para o Bolshoi em dois dias. Enquanto isso ela ainda tem dúvidas de como se posicionar em dehor.
Os anos passam, a turma que um dia começou lotada vai diminuindo, os interesses vão mudando. As que saíram agora desejam ser estrelas do rock, artistas de televisão e cinema, ou modelo de capa de revista. As que ficaram são porque amam ou porque são obrigadas pela mãe.
Apresentações durante o meio e fim do ano com sua progenitora sendo a fiel e mais forte patrocinadora. A família chorando de emoção e sorrindo com o jeito meigo e fofo daquelas de quem são fã. Clic. Clic. Clic. É o barulho das máquinas apressadas para guardar cada momento, cada pas, cada arabesque.
Passam mais estações que davam para ser observadas pela janela e refletidas pelo o espelho. A que ia por obrigação, ou se revolta de vez e joga as sapatilhas para o alto ou aprende a se divertir e gostar um tanto. A que ia por amar, bem, continua indo pelo mesmo motivo.
Agora o que rodeia os sonhos juvenis de cada uma delas, e as faz criar coreografias toda vez que escuta um conjunto de notas – seja do vento, seja das ondas do mar, seja da respiração, seja do instrumento – que lhe desperta emoção é a ter sua chance de fazer um pas de deux, um solo, e claro brilhar ainda mais.
Eduarda Vaz